terça-feira, julho 17, 2001

SEGUNDA PARTE DO CONTO

" E eis o espetáculo que eu não queria: a jovenzinha adentrando a
ferocidade - no que me parece ultrapassar o deslize. Não sei onde
é a fronteira, mas ela existe. Além dela, o atoleiro, a
contaminação. Talvez não fosse tão terrível. Entretanto, chegou com
a força das surpresas: era um fato inédito e me fez rever
posicionamentos, reacomodar dentro de mim camadas há muito tempo
entranhadas - todo cambia. Na verdade, a nova presença não passava
de um pecadilho, hecatombe mínima. Suficiente, porém, para abismar
e deixar seqüelas. O figurino da distinta apresentava uma leve
alteração e, como se fosse uma moleca, ela trazia uma blusa
amarrada na cintura. Essa maneira de carregar uma peça de roupa é
das coisas que mais me irritam gratuitamente, ao lado de chiclete,
telefone anotado na pele, manga espichada até cobrir a mão. O que
eu podia fazer? Quem estava ostentando a barbaridade não era nenhuma
outra senão a deusa mais alta do meu panteão. Olhar ou não olhar?
Qual a atitude a ser tomado por um homem sério, centrado,
proprietário dos seus atos? Não sei... Às vezes me vanglorio de já
ter testemunhado estranhezas, sempre me considero bem rodado - e volta
e meia sou atropelado por um desconhecido espanto. A imensa terra que
nos abriga, as pessoas que vamos encontrando, nossa trajetória enfim
têm o eterno poder de desconcertar. E mesmo sem o solo habitual, não
achei feio o que a guria fez. É bem verdade que pra mim tudo que vem
dela é bonito, o ar à sua volta é mais salutar, o caminho, mais
iluminado. Assim, aquele modismo pivete não atrapalhava. Ou estou
dando um desconto? Certeza eu só tenho de que vou ficando velho e
já não sou tão cruel. Há demasiadas mudanças em mim, muito embora
permaneça a mania por ela, por sua graça. Então, chamo o santo nome
de Deus, para que tenha pena deste pecador, deste desatinado... "
[ A Senhora - autor é ele... o meu padre, ainda tem a ultima parte}

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