quinta-feira, maio 26, 2005

MENDIGANDO


Fiz um papel de mendiga num curta-metragem, colocaram
terra no meu cabelo, na cena choro de verdade com a
morte de uma menina. Nunca me senti tão bonita e
tão bem, por estar representando esses perambulantes
de rua tão sofridos. Nesse fim de semana fiz papel de uma
dama da sociedade, de vestido longo vermelho, não foi a
mesma coisa. Quero mais é ser mendiga. E sabe, me
peguei lendo esta noite o trecho:

A Srta. Baptistine era alta, pálida, delicada,
agradável; era realmente o que indica a palavra
"respeitável", pois me parece que uma mulher para
se tornar venerável precisa ser mãe. Nunca foi bonita;
toda a sua vida, que não foi senão uma seqüência de
boas obras, envolveu-a numa espécie de brancura, de
claridade, e, com os anos, ganhou o que poderíamos
chamar de beleza da bondade. O que era magreza em
sua juventude tornou-se transparência, diafaneidade
que deixava entrever um anjo. Era mais que uma virgem,
era uma alma. Parecia feita de sombras: o mínimo de
corpo para que ali houvesse um sexo; um pouco de
matéria envolvendo uma luz; grandes olhos sempre
modestos; um pretexto, enfim, para que uma alma
permanecesse na terra.
[Os Miseráveis - Victor Hugo]

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