quarta-feira, agosto 22, 2007

Borgues deveria ser mais que um homem um verbo - borgear, ele também amava a intensidade do vermelho hoje eu estava borgeando e li isso:

"No seu mundo de sombras, Borges tateava a infinita escuridão sem desespero. Sabia que estava ali dentro e dali não sairia mais, porém não se sufocava por causa da sua condição de cego. Ser cego não é ser triste. E assim ele continuava elaborando na mente seus textos para ditá-los a Kodoma, sua secretária que mais tarde se tornaria sua esposa. A única coisa que o incomodava um pouco naquele seu negro mundo era que não poderia mais ver as cores. Ah, como sentia prazer vendo o mundo das cores! Lamentava por não poder ver mais o vermelho, cor que sempre o seduzira a pensar num poema ou em qualquer coisa a mais. As últimas cores que vira foram o verde, o amarelo e o azul. Depois mais nenhuma cor. Nem o preto. Mas nem por isso ele desistiu. Apenas sentia que o seu corpo estava no escuro, mas sua alma não. Havia muita luz ao redor do mundo dele. Mesmo não enxergando podia imaginar tudo porque sabia como eram as coisas. Afinal já vivera no mundo das luzes do outro lado de lá. Certamente sentia saudades de ver muitas coisas. Quando comia uma maçã, por exemplo, sentia desejo de vê-la. Aquela fruta de casca sedutoramente vermelha em suas mãos causava-lhe fome, vontade de ver. Saudades daquilo que já se apagara dentro dos olhos."

http://www.releituras.com/ne_mfreitas_escuridao.asp

segunda-feira, agosto 20, 2007


EM VÃO
minhas mãos escrevem em vão

letras quentes como fogo de dragão
procurando o tato-retrátil de um sentimento frágil

que foge do meus dedos longos pelo alçapão

procurando o corpo-espaço letrado tão sonhado
minhas mãos pincelam paredes de pele
procurando o desejo-nuance de um romance
fazem carinhos moinhos de vento tufão
tem dedos mindinhos pequenos como um grão
procurando o carinho que vem no carrinho-de-mão
minhas mãos viram pinguins-gelados só de te ver
tem falange que range por uma paixão
minhas mãos tem unhas de um vermelhão
capaz de enlouquecer qualquer homenzarrão
procurando o amor-estação aqui ou no Japão
poesia de mala vazia traga meu bem de trem ou de avião
tem um aperto de mão que diz: oi coração!
[Luna em 20 de agosto de 2007]