sábado, fevereiro 18, 2006

O AMOR É CALADO, NÃO É?


Pablo Neruda

Traduções de Ari Roitman e Paulina Wacht

POEMA 15

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente,

e me ouves de longe, e minha voz não te toca.

Parece que teus olhos houvessem saltado

e parece que um beijo fechara a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias de minh'alma

emerges das coisas cheia de alma, a minha.

Borboleta de sonho, tu pareces com minh'alma,

como pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.

E estás como a queixar-te, borboleta em arrulho.

E me ouves de longe, e minha voz não te alcança:

permite que eu me cale com teu silêncio agudo.

Permite que eu te fale também com o teu silêncio

claro como uma lâmpada e simples como um elo.

Tu és como a noite, calada e constelada.

Teu silêncio é de estrela, afastado e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.

Distante e dolorosa como se estivesses morta.

Uma palavra, então, um sorriso são o bastante.

E fico alegre, alegre porque a verdade é outra.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

POUCO

Ando dormindo pouco, saindo pouco e desencontrando
de tudo até das letras, essas escaparam.
É só um aperitivo, o texto todo será publicado
na página oficial dos Anjos de Prata.
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DESENCONTRADOS

Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Carlos Drummond de Andrade


Mergulho. Caí de cabeça naquela relação amorosa e mesmo assim éramos desencontrados letrados. No papel existia uma certa magia mas na real era só fantasia. Ele me viu, tenho certeza por mais que disfarçasse. Não foi só pelo vestido verde limão com decote chamativo que era quase uma placa luminosa "pare, me olhe". Assim por baixo dos óculos, dava para perceber um olhar de simpatia que fugia.

Mapa. Ele chegava bem perto mas tudo era incerto. Marcava encontro e perdia o relógio, perdia o calendário, perdia o intinerário. A cada probabilidade de encontro, como mulher estudava todas as atitudes que iria tomar: decorava perguntas para fazer, ensaiava no espelho como deveria olhar, testava batons para que minha boca ficasse rosada e até o movimento da cruzada de pernas, tinha que ter um tempo certo de rotação das rótulas do joelhos. Queria que ele ficasse absolutamente encantado comigo e nada podia escapar daquele encontro.