quinta-feira, maio 26, 2005

ESCRITORES

O escritor revive.
Ninguém é escritor de meia noite as 3h. da madrugada.
Quem é poeta as vezes é atleta e nem sempre, tem a mão
armada pelo poema. Nem pude continuar Borgeando...
[da Luna]
----------------------------------------------------
O escritor vive.
Ninguém é escritor das oito ao meio-dia e das duas às seis.
Quem é poeta é poeta sempre, e se vê continuamente assaltado
pela poesia.
Assim como o pintor é assediado pelas cores e pelas formas,
assim como o músico se sente procurado pelo estranho mundo
dos sons (o mundo mais estranho das artes), o escritor deve
pensar que tudo é argila, com que fará da miserável
circunstância de nossa vida alguma coisa que possa aspirar
à eternidade. [Jorge Luis Borges]
MENDIGANDO


Fiz um papel de mendiga num curta-metragem, colocaram
terra no meu cabelo, na cena choro de verdade com a
morte de uma menina. Nunca me senti tão bonita e
tão bem, por estar representando esses perambulantes
de rua tão sofridos. Nesse fim de semana fiz papel de uma
dama da sociedade, de vestido longo vermelho, não foi a
mesma coisa. Quero mais é ser mendiga. E sabe, me
peguei lendo esta noite o trecho:

A Srta. Baptistine era alta, pálida, delicada,
agradável; era realmente o que indica a palavra
"respeitável", pois me parece que uma mulher para
se tornar venerável precisa ser mãe. Nunca foi bonita;
toda a sua vida, que não foi senão uma seqüência de
boas obras, envolveu-a numa espécie de brancura, de
claridade, e, com os anos, ganhou o que poderíamos
chamar de beleza da bondade. O que era magreza em
sua juventude tornou-se transparência, diafaneidade
que deixava entrever um anjo. Era mais que uma virgem,
era uma alma. Parecia feita de sombras: o mínimo de
corpo para que ali houvesse um sexo; um pouco de
matéria envolvendo uma luz; grandes olhos sempre
modestos; um pretexto, enfim, para que uma alma
permanecesse na terra.
[Os Miseráveis - Victor Hugo]