sábado, agosto 17, 2002

FODA-SE EU VOU AO FONDUE

- Tem os dois pecados que gosto:
o da gula e o da carne.
Então hoje de noite vou cometer o da gula.
- Fondue de queijo e de chocolate
na casa de amigos, vou beber vinho.
- Será que vai ter uma lua de cristal?

PS. esse foda-se foi só pra rimar com fondue
nada pessoal, mas se tiver vontade f....
A BUNDA DE DRUMÃO
Drummond foi fazer poesia no céu num dia como hoje.
É aniversário de morte dele... mas nada de tristeza
vamos balançar a bunda...

A bunda que engraçada
[Carlos Drummond de Andrade]

A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
rebunda.


sexta-feira, agosto 16, 2002

ABUNDÁNCIA

foto da capa do vídeo (a bunda é da Liz , ela tinha
essa calça rasgada e balançava o planeta qdo usava)

*** Nos anos 90 fiz um vídeo e ele ganhou um concurso universitário, não consigo esquecer a cara de dois estudantes da USP de Cinema me convencendo que o prêmio ia ser pra eles, porque eles eram os melhores. Fui a única de São Paulo e eles tinham levado torcida e tudo. O meu filme era uma comédia surrealista sobre Bundas. Segui toda a métrica de roteiro, obedeci todas regras de minutagem e o resuitado foi uma abundância de coisas boas. Até hoje sempre topo com alguém que me ajudou a realizar meu primeiro curta. Então curta esse bate-papo telefônico de ontem...

- Alô quero falar com a Rosi Luna?
- Diz aí. É ela.
- Nem imagina quem está falando.
- Realmente não lembro nem o que comi ontem.
- É o bundomaníaco, ator do seu filme.
- Não brinca, Ricardo.
- Como conseguiu meu telefone?
- Tem um cara da Unicamp do Multimeios que te conhece.
- Menino, puxa faz uns 10 anos isso.
- Então, estou ligando porque quero uma cópia do filme. Sabe
o Dundun teu colega jornalista ficou sério. Ele não quis me dá uma
cópia da fita porque aparece a bunda dele tomando injeção.
E ele gordinho do lado do hipopótamo pegou mal, ele disse
que foi o maior mico da vida dele e tinha até pipocas azuis.
- É, eu não sabia fazer ficção mandei aplicar injeção de água
desltilada na bunda dele, o grito foi bem real.
- Cara, vamos fazer o seguinte te arrumo uma cópia e vc vai
na palestra de cinema que minha Ong está organizando.
- Bom falar contigo depois de tanto tempo.
- E no programa Jô Soares lembra "quem é aquela bunda peluda?"
Fiquei um tempão com o apelido de bunda peluda, graças ao Jô.
- Sabia que esse filme foi um Glauber Rocha na minha vida.
Eu achava que podia tudo, até ficar pelado no viaduto. Ousadia pura.
- E a Garra lembra?
- Veio nos prender, mandei eles assistirem logo acalmaram.
- Parece máquina do tempo, vou fazer outro filme. O cachê é pequeno,
topa trabalhar comigo? Depois me fala... ainda é ator?
GEOGRÁFICO
by Luna

Eu chamo. Ele vem, sim inflama. O vento acolhe, a viela é o submundo e tentáculo de nós. O fascínio em parte se afirma. O quadrado se abre, o retorno é parelelo. Tudo prisma, quase tudo transita nesse lumiar de pérolas, impura clareira e nele me envolvo, sou um polvo, sem voltas ou linhas tortas. Privilégio, lance que nos lança, mesmo perto imperfeita sedução. Então, contra-mão, se não. A nova era, a primavera, quero estar com ela.

Quem, se não?

PS. aumentei uma palavrinha no ínicio.

terça-feira, agosto 13, 2002

DRUMÃOS
*** isso quer dizer que foi escrito a quatro mãos
e dessa vez fui longe demais, só estou esperando
a ordem de prisão - o motivo legal: plágio poético.

foto da minha face de alface de mil novecentos e bolinha
antes de uma apresentação de ballet moderno

POEMA DE UMA FACE
[plágio não autorizado do Poema de sete faces
de Carlos Drummond de Andrade]

Quando nasci, um anjo bailarino
desses que vivem na luz
disse: Vai, Luna! ser galocha na vida.

Os apartamentos apertam os homens
que na vidraça espiam mulheres,
A tarde talvez fosse rosa,
não houvesse tantos beijos.

O metrô passa cheio de pés:
pés brancos pretos amarelos.
Pra que tanto pé, Madre de Deus, pergunta minha atração.
Porém minhas trilhas
respondem tudo.

A mulher atrás das saias
é risonha, completa e fraca.
Conversa como uma matraca.
Tem muitos, caros amigos
A mulher atrás do batom e das saias.

Minha Madre de Deus, porque me encontraste
se sabias que eu não era Madre de Deus
se sabias que eu era forte.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimunda,
seria uma obra prima, e teria um bundão
mundo mundo vasto mundo
mais vasto é meu corpão

Eu devia te dizer
mas essa Luna
mas esse champanhe
botam a gente envolvido como o diabo.

domingo, agosto 11, 2002

* Liguei agora para Recife e o meu pai vai almoçar com a família. E o almoço vai ser na casa da minha Tia Conceição que mora num lugar lindo que chama Apipucos do lado casa de Gilberto Freyre. Minha mãe está confeitando o bolo de dia dos pais e eu estou aqui morrendo de saudade dele. Resolvi escrever essas palavras para que o meu Paulo, sorry Prata mas como plagiadora oficial roubei só o título, acho que não vai me levar as vias de tribunais.
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meu pai dizia que quando se aposentasse ia
criar galinhas e não é que foi mesmo, essa foto
eu fiz na granja e ele lá posando na placa

O PAULO (título plágio da crônica do Estadão/ Mario Prata de 31.07.2002)

O Paulo é meu pai. Ele não é o Paulo Coelho e muito menos entrou pra Academia Brasileira de Letras. Paulo Luna é um pacato cidadão da República das Bananas do Brasil. Consegue advinhar qual a fruta preferida dele e de todos os macacos do planeta?Banana. E viva a Chiquita Bacana lá da Martinica.
O meu Paulo saiu correndo da maternidade pra comprar tudo cor de rosa pra que eu ficasse parecendo uma bonequinha de luxo. Ele me deu um nome de flor e lua. Deixa me apresentar, sou sua filha mais velha. Nasci nos anos 60, usei mini saia e assistia a missa na igreja do Embaré e até vi o Pelé que fazia sucesso na cidade de Santos de onde vim aterrisar no mundo. O meu Paulo colocava os presentes debaixo da árvore de natal e me fêz acreditar em papai noel. Na Páscoa ele escondia os ovos e deixava pistas. Um dia fui achar meu ovo de chocolate debaixo do banco do piano. Depois de uma série de "tá frio, tá quente" consegui ver ele engenhosamente amarrado na mola do banco. Ele também me deu um piano aos sete anos de idade e eu mal sabia ler, foi difícil aprender a tocar. O espetáculo do piano entrando pela janela do prédio no primeiro andar que morávamos foi inesquecível, acredite o piano não passou na porta.

O meu Paulo sentava numa cadeira - a maior que tinha na sala e ficava esperando a fila de presentes e os beijos. Minha mãe sempre preservou esse costume da cadeira em datas comemorativas. Eu vivia sonhando em chegar meu aniversário pra ganhar presentes sentada naquilo que eu considerava um trono. O meu Paulo sempre quis ter uma família numerosa e ele conseguiu. Somos sete filhos e os netos nem dá pra contar, eles não param de nascer.
O meu Paulo sempre me deu todas as bonecas que pedi, porque eu fazia cada bilhete tão amoroso e tão cheio de de desenhos de coração que ele não conseguia resistir. Eu também era uma dançarina muito amostrada e isso conquistava qualquer pai. Eu era sua menina bailarina. O meu Paulo pagou caro para que eu fosse rainha do milho no colégio de freiras e depois virei anjo na festa do mês.Ele ficou muito orgulhoso quando fui oradora da turma na faculdade. Eu não fui a laureada, mas ser eleita por voto direto a oradora e isso deu a ele um enorme prazer. Afinal Ulysses Guimarães começou assim, sendo orador. Talvez ele soubesse o meu dom da retórica e a facilidade pra falar em microfones. Ele sabia que não daria pra ter outra profissão que não fosse jornalista. E assim me tornei a única escritora da família. Acho que ele sonha com o dia em que publicar um livro e escrever uma dedicatória pra ele. Quem sabe ainda faço isso.

O meu Paulo tem um coração enorme quase tão grande quanto a barriga dele que vivo fazendo cócegas. Ele me mata quando ler isso. O meu Paulo tem medo de altura e mesmo assim trabalhou com elevadores. Me lembro que um dia no parque de diversão e que estávamos na roda gigante e ele falava com cara de assustado "minhas pernas estão virando uma papa". Era um tanto incoerente pra quem passou a vida tendo firma de elevadores e trabalhando nas alturas. Bom, nada é perfeito, foi com muito trabalho que ele meu deu tudo - casa, escola e brinquedos. Me ensinou a honestidade e o amor ao próximo. O meu Paulo sempre foi hilário, sendo bem íntima posso falar que tem vocação pra palhaço e sempre me fêz rir. Daí acho que puxei esse talento pra escrever coisas engraçadas. Fico achando que a vida é uma comédia. O meu Paulo é baixinho e gordinho. Nem sempre escrevo elogios. Mas pra mim ele é o maior pai do mundo. Não pela a altura mas por tudo que ele representa. O meu Paulo é o Luna - a minha lua que me guia.Tenha o prazer em conhecer esse é : o Paulo.