quinta-feira, novembro 17, 2005

XONADA POR POETAX

Tava andando pelos areais de lua
e tropecei nesse poemax
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O mexicano Octavio Paz, em Corpo à vista,
é capaz de reinventar liricamente a
concretude física de sua amada, valendo-se
de metáforas ousadas:


E as sombras se abriram outra vez e
mostraram um corpo:
teu cabelo, outono espesso, queda de
água solar,
tua boca e a branca disciplina dos
dentes canibais, prisioneiros em chamas,
tua pele de pão apenas dourado
e teus olhos de açúcar queimado,
lugares onde o tempo não transcorre,
vales que só os meus lábios conhecem,
desfiladeiro da lua que ascende a tua
garganta por entre os seios,
cascata petrificada na nuca,
alta planície de teu ventre,
praia sem fim das tuas costas.
Teus olhos são os olhos fixos do tigre
e um minuto depois são os olhos úmidos
do cão.
Sempre há abelhas em teus cabelos.
Tua espádua flui tranqüila debaixo de
meus olhos
como a espádua do rio à luz do incêndio.
Águas adormecidas golpeiam dia e noite
a tua cintura de argila
e em tuas costas, imensas como
os areais da lua,
o vento sopra por minha boca e seu largo queixume
cobre com duas asas cinzas
a noite dos corpos.
As unhas de teus pés estão feitas de cristais de verão.
(...)

Pátria de sangue
única terra que conheço e me conhece
única pátria em que creio
única porta ao infinito.

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