sexta-feira, outubro 25, 2002

BAILARINA NA PONTE DO RICIFI

dá pra saber que a silueta é minha?

CORPORAL
Carlos Drummond de Andrade

O arabesco em forma de mulher
balança folhas tenras no alvo
da pele.
Transverte coxas em ritmos,
joelhos e tulipas. E dança
repousando. Agora se inclina
em túrgidas colinas, promitentes colinas.

Todo se deita: é uma terra
semeada de minérios redondos,
braceletes, anéis multiplicados,
bandolins de doces nádegas cantantes.

Onde finda o movimento, nasce
espontânea a parábola,
e um círculo, um seio, uma enseada
fazem fluir, ininterruptamente,
a modulação da linha.

De cinco, dez sentidos, infla-se
o arabesco, maçã
polida no orvalho
de corpos a enlaçar-se e desatar-se
em curva curva bem- amada,
e o corpo inventa é coisa alada.

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