segunda-feira, abril 01, 2002

CLARICEANDO
* sempre abro um livro e leio um texto aleatório
em algumas noites e ontem li esse da Clarice
Lispector, do livro A Legião Estrageira, chama-se
A Mensagem. Bem, tá aí um trecho da mensagem.

Hoje é primeiro de abril, podia ser uma mentira
mas eu queria mandar esta mensagem para alguém.

"Viu-se conversando com ela, escondendo com secura
o maravilhamento de enfim poder falar sobre coisas
que realmente importavam; e logo com uma moça!
Conversavam também sobre livros, mal podiam
esconder a urgência que tinham de pôr em dia
tudo em que nunca haviam falado. Mesmo assim,
jamais certas palavras eram pronunciadas entre
ambos. Dessa vez não porque a expressão fosse
mais uma armadilha de que os outros dispõem
para enganar os outros. Mas por vergonha. Porque
nem tudo teria coragem de dizer, mesmo que ela,
por sentir angústia, fosse pessoa de confiança.
Nem em missão ele falaria jamais, embora essa
expressão tão perfeita, que ele por assim dizer
criara, lhe ardesse na boca, ansiosa por ser dita.
...
Era isso? Eles se precisavam temporariamente,
irritados pelo outro ser tão desastrado, um culpando
o outro de não ter experiência . Falhavam em cada
encontro, como se numa cama se desiludissem.
O que é afinal que queriam? Queriam aprender.
Aprender o quê? eram uns desastrados.
...
Enfim ambos haviam inesperadamente alcançado
a meta e estavam diante da esfinge. Boquiabertos,
na extrema união do medo e do respeito e da palidez,
diante daquela verdade. A nua angústia dera um pulo e
colocara-se diante deles - nem ao menos familiar
como a palavra que eles tinham se habituado a usar."

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