segunda-feira, junho 24, 2002

MINHA BEBIDA
MINHA CACHAÇA

fui tomar essa garrafinha de Amarula
coloquei um cd e abri um livro de poesias
de papel bíblia de Vinicius de Moraes

Tipo nada como uma boa música, uma boa bebida
e um bom livro e aí abri numa página aleatória.
Achei que esse trecho combinava com a imagem:
"Minto, violo, roubo, bebo, mato"

Faço tudo isso quando estou apaixonada:
minto o que não precisa ser dito
violo um portão para encontrá-lo
roubo um coração e saio sem pedir nota fiscal
bebo uma garrafinha de amarula com chocolate
e mato, mato ele de amor, é dessa morte que falo

*** de Cordélia e o Peregrino de Teatro em versos
Vinicius de Morais

O Peregrino
Amor? Não sei... Tu és talvez amor.
És um lugar. És como uma casa
Na montanha, a se repetir
Através de etapas de solidão.
Não sou eu que te quero, és tu que existes
Em meu caminho, como uma pequena presença
Fatal. A fatalidade é tua, não é minha
Eu ando; ando após a tempestade
Que deixas onde passas; és o ar
Que eu respiro; sabendo-te
Descanso; sofro às vezes, mas um segundo teu
Renega tudo. O crime
É a presença de prazer no teu corpo
De mulher; tu chegas e eu
Sei que, oculto no teu ventre
Palpita-te o sexo, quente como um fruto
As que minha força de homem dá direito. Por isso
Minto, violo, roubo, bebo, mato. Tu vês
É impossível! Onde tu vais
Vai-te o sexo. Posso senti-lo
Em cada movimento teu. Que demônio
És tu, mulher, para conseguires viver
Assim violentada por ti mesma?

Cordélia
E o amor?

O Peregrino (irônico)
Ah, o amor... o inantingível
O invisível, o ausente, o omnisciente
Amor, a sugar como um vácuo
Imenso na criação, a vida de tudo o que existe...
...
Cordélia
Toma-me, vem.
Se provares de mim, esquecerás
O mistério. Não há mistério.
Em nada. É tudo a unidade
Da vida. Meu corpo te repousa...

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