domingo, agosto 11, 2002

* Liguei agora para Recife e o meu pai vai almoçar com a família. E o almoço vai ser na casa da minha Tia Conceição que mora num lugar lindo que chama Apipucos do lado casa de Gilberto Freyre. Minha mãe está confeitando o bolo de dia dos pais e eu estou aqui morrendo de saudade dele. Resolvi escrever essas palavras para que o meu Paulo, sorry Prata mas como plagiadora oficial roubei só o título, acho que não vai me levar as vias de tribunais.
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meu pai dizia que quando se aposentasse ia
criar galinhas e não é que foi mesmo, essa foto
eu fiz na granja e ele lá posando na placa

O PAULO (título plágio da crônica do Estadão/ Mario Prata de 31.07.2002)

O Paulo é meu pai. Ele não é o Paulo Coelho e muito menos entrou pra Academia Brasileira de Letras. Paulo Luna é um pacato cidadão da República das Bananas do Brasil. Consegue advinhar qual a fruta preferida dele e de todos os macacos do planeta?Banana. E viva a Chiquita Bacana lá da Martinica.
O meu Paulo saiu correndo da maternidade pra comprar tudo cor de rosa pra que eu ficasse parecendo uma bonequinha de luxo. Ele me deu um nome de flor e lua. Deixa me apresentar, sou sua filha mais velha. Nasci nos anos 60, usei mini saia e assistia a missa na igreja do Embaré e até vi o Pelé que fazia sucesso na cidade de Santos de onde vim aterrisar no mundo. O meu Paulo colocava os presentes debaixo da árvore de natal e me fêz acreditar em papai noel. Na Páscoa ele escondia os ovos e deixava pistas. Um dia fui achar meu ovo de chocolate debaixo do banco do piano. Depois de uma série de "tá frio, tá quente" consegui ver ele engenhosamente amarrado na mola do banco. Ele também me deu um piano aos sete anos de idade e eu mal sabia ler, foi difícil aprender a tocar. O espetáculo do piano entrando pela janela do prédio no primeiro andar que morávamos foi inesquecível, acredite o piano não passou na porta.

O meu Paulo sentava numa cadeira - a maior que tinha na sala e ficava esperando a fila de presentes e os beijos. Minha mãe sempre preservou esse costume da cadeira em datas comemorativas. Eu vivia sonhando em chegar meu aniversário pra ganhar presentes sentada naquilo que eu considerava um trono. O meu Paulo sempre quis ter uma família numerosa e ele conseguiu. Somos sete filhos e os netos nem dá pra contar, eles não param de nascer.
O meu Paulo sempre me deu todas as bonecas que pedi, porque eu fazia cada bilhete tão amoroso e tão cheio de de desenhos de coração que ele não conseguia resistir. Eu também era uma dançarina muito amostrada e isso conquistava qualquer pai. Eu era sua menina bailarina. O meu Paulo pagou caro para que eu fosse rainha do milho no colégio de freiras e depois virei anjo na festa do mês.Ele ficou muito orgulhoso quando fui oradora da turma na faculdade. Eu não fui a laureada, mas ser eleita por voto direto a oradora e isso deu a ele um enorme prazer. Afinal Ulysses Guimarães começou assim, sendo orador. Talvez ele soubesse o meu dom da retórica e a facilidade pra falar em microfones. Ele sabia que não daria pra ter outra profissão que não fosse jornalista. E assim me tornei a única escritora da família. Acho que ele sonha com o dia em que publicar um livro e escrever uma dedicatória pra ele. Quem sabe ainda faço isso.

O meu Paulo tem um coração enorme quase tão grande quanto a barriga dele que vivo fazendo cócegas. Ele me mata quando ler isso. O meu Paulo tem medo de altura e mesmo assim trabalhou com elevadores. Me lembro que um dia no parque de diversão e que estávamos na roda gigante e ele falava com cara de assustado "minhas pernas estão virando uma papa". Era um tanto incoerente pra quem passou a vida tendo firma de elevadores e trabalhando nas alturas. Bom, nada é perfeito, foi com muito trabalho que ele meu deu tudo - casa, escola e brinquedos. Me ensinou a honestidade e o amor ao próximo. O meu Paulo sempre foi hilário, sendo bem íntima posso falar que tem vocação pra palhaço e sempre me fêz rir. Daí acho que puxei esse talento pra escrever coisas engraçadas. Fico achando que a vida é uma comédia. O meu Paulo é baixinho e gordinho. Nem sempre escrevo elogios. Mas pra mim ele é o maior pai do mundo. Não pela a altura mas por tudo que ele representa. O meu Paulo é o Luna - a minha lua que me guia.Tenha o prazer em conhecer esse é : o Paulo.

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