NOSTALGIA


Acordei com saudade da minha máquina de escrever manual - uma
Olivetti com uma malinha cinza, que andou, viajou comigo tantos anos.
Depois me lembrei do curso de datilografia, milhões de toques
por minuto, dedos apoiados no teclado da máquina como se fosse um
piano. Perfeição, limpeza e rapidez era o que se exigia para um datilógrafo.
O que faço com esse diploma agora?

Acho que datilógrafo entrou em extinção como dinossauro.
Lembrei de uma coisa boa.
Alguém já ganhou de presente de aniversário um dicionário Aurélio?
Eu ganhei, e nem fiquei brava, gostei mais do que fosse uma blusa.
Porque gostei?
Um pintor precisa de pincel, um pedreiro precisa de uma pá e um
escritor precisa de palavras.

Sabe o que é Nostalgia? é você começar a imaginar tudo diferente
na sua vida... e se eu tivesse feito tal coisa... e se aquele contrato
tivesse dado certo... e se eu tivesse tomado tal atitude.
Não venha me dizer que estamos na era do computador, mas tenho
saudade, no jornal o editor ficava gritando "sua lauda tá pronta?"
Minha lauda era tão linda, bege, de papel jornal, 40 toques e 20 linhas.

Será que já esqueci? Acho que era isso. Outro dia abri a malinha
da máquina, era uma desolação só o estado dela, coitadinha, seca,
sem óleo, sem uso. Tava lá escondida debaixo de um móvel.
Tão acanhada, tão obsoleta. Quer me chamar de maluca?
Pois eu sou. Coloquei uma folha e bati umas letras.
Fiz até um carinho na máquina, tão minha amiga.

Me lembrei do primeiro dia que liguei o computador.
Sabe que tive tanto medo dele, que simplesmente não tinha idéia
de como escrever um texto. Eu travava completamente.
Nessa época era engraçado, escrevia na máquina e passava
à limpo no computador. Só conseguia relaxar na máquina.
Me apego aos meus objetos, as pessoas, tento ser forte e
digo vou largar tudo e viver a modernidade.

Bate uma nostalgia, uma saudade, uma falta, e vejo que não
consigo viver sem as pessoas e as coisas que compõem minha
vida... tec tec tec é o barulho da Olivetti batendo as teclas feliz...