sexta-feira, fevereiro 22, 2002

AS COISAS BOAS DA VIDA

andar na praia
tomar água de côco
ler poesia de Drummond (em especial a do Flautim)
lovear lovear lovear
escrever até perder as letras

CANÇÃO FLAUTIM
Carlos Drummond de Andrade

Se gostasses de mim,
ai se gostasses,
se gostasses de mim
-serenim-
era tudo alecrim.

Se gostasses de mim
-mirandolim-
eu morria. Morria?
de gozo no sem-fim.

E gostaste. Gostavas?
de mim.
Era tão sem aviso
era tão sem propósito
-trancelim-
e eu saltava, delfim.

E dançava, tchim,
sem notar, ai de mim:
Não era tanto assim.
Gonçalim.

Já não gostas de mim.
É fácil percebê-lo.
Vagueio pepolim
a caminho do nada.
Saponim.

Restaria o gerânio,
a senha no jardim?
O lenço ou a colcheia
no róseo bandolim
do ventre da joaninha?

Candorim?
Xerafim?

Mal gostasses de mim,
outra vez carmesim
eu morria, eu vivia
de gozo por três vezes.
mirá, miradolim.

Pelo gozo passado
em faro de jasmim
- palaquim-
pelo gozo presente
no metal do clarim
-trampolim-

pelo gozo futuro
em verso folhetim
-farolim-
que farei deste sim?

Se gostares de novo
seremos o festim
no parque, nas piscina
ou no estrapotim,
em relva entrelaçados
um timtim noutro tim
seremos o marfim
de lavor impecável
na infinda pespectiva
do fim.

Se não
gostares de mim
de mim de mim de mim,
sumirei na voragem
no báratro, no pélago
-votorantim-
no vórtice abissal
da tristeza total
do cálculo de rim.

Ah! se gostasses de mim!



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