quinta-feira, março 22, 2001

MAGNIFICAT
[Álvaro de Campos]

Quando é que passará esta noite interna, o universo.
E eu, a minha alma terei o meu dia?
Quando é que despertarei de estar acordado?
Não sei. O sol brilha alto,
Impossível de fitar.
As estrelas pestanejam frio,
Impossíveis de contar.
O coração pulsa alheio,
Impossível de escutar.
Quando é que passará este drama sem teatro,
Ou este teatro sem drama,
... E então será dia.
Sorri, dormindo, minha alma!
Sorri, minha alma, será dia!
Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
... O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós,
só o mundo;
O que não há somos nós, e a verdade está aí.
Sou quem falhei ser.
Somos todos quem nos supusemos.
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca.
... Na alma, e com alguma verdade;
... Na imaginação, e com alguma justiça;
... Na inteligência, e com alguma razão...

PS. é magnificat mesmo ver como os poetas tinham
os seus conflitos, parecia tão real e tão ilusório...
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