quinta-feira, julho 05, 2001

CAPÍTULO: A BALZAQUIANA

Retorna ao primeiro soneto, relê o verso devagar,
a meia voz como quem degusta um vinho de esquisito
buquê:
"O calipígia Vênus de formosa bunda".

A SENHORA DE BELEZA FANADA
Depois de tê-la violado com furor apache, começou
a desvesti-la devagar, peça por peça, gastando tempo,
pois, enquanto o fazia, apossou-se de todos os detalhes,
em cada minúcia se detendo, levando o corpo da mulher
a vibrar inteiro, aceso, no espanto e na revelação do gozo.
Perito na arte do prazer, por gosto e ofício, Bruno a trouxe
do trivial de Alberto para os manjares refinados,
desvendandi-lhes usos e costumes inéditos, delicadezas de
línguas e sensações de tato, quando naquela primeira
madrugada tocou nas ancas e nos peitos modelados por
Rubens, na flor desabrochada em mel. Por fim a viu
inteiramente nua, os altos seios, as fornidas coxas, os
imensos olhos de água pura. Virou-a de costas, o dorso
magnífico, os quadris de égua, montaria que Alberto não
soubera cavalgar. Em espuma de champanha a saboreou
devagarinho.
[Farda Fardão Camisola de Dormir - Jorge Amado]

PS. estou lendo aqui no Rio esse livro e torcendo
pela recuperação do escritor.



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